O OBJETO DA DOGMÁTICA JURÍDICA: O QUE FAZEM OS ESTUDIOSOS DO DIREITO? - DOI: 10.12818/P.0304-2340.2020v76p359

Autores

  • Martha Toribio Leão Universidade Presbiteriana Mackenzie

Resumo

O presente artigo examina três diferentes modelos de dogmática jurídica: descritivista, realista e argumentativista. Para tanto, enfrenta, em primeiro lugar, as críticas atinentes ao uso da expressão “ciência jurídica”, apontando as razões pelas quais o termo “dogmática jurídica” seria mais técnico para designar a atividade praticada pelos estudiosos do Direito. Em segundo lugar, o trabalho aborda as críticas ao modelo descritivista, enquanto modelo reducionista do objeto da dogmática jurídica. Como contraponto a este modelo, são examinadas as características dos modelos realista e argumentativista. E, em terceiro lugar, defende-se a adoção do modelo argumentativista, mais especificamente em sua evolução para o modelo semântico-argumentativista. A hipótese a ser enfrentada diz respeito a definir qual é a atividade praticada pelos estudiosos do Direito, para responder se esta atividade é descritiva, criativa ou argumentativa. O método utilizado é o analítico, por meio de uma pesquisa doutrinária crítica com relação ao tema. Como conclusões alcançadas, destaca-se a preferência pela concepção de dogmática jurídica (e não ciência jurídica), enquanto método (referindo-se tanto a atividade como ao seu produto). Além disso, conclui-se pela adoção de uma objetividade discursiva, que pressupõe a adoção de critérios claros e seguros, sem que isso leve ao decisionismo, que é exatamente a crítica apresentado ao modelo realista. Isso significa dizer que entender o Direito como uma prática discursiva, cuja objetividade encontra-se na argumentação, não significa necessariamente que o Direito será apenas aquilo que os juízes disserem que ele é. O intérprete participa ativamente da construção e reconstrução do Direito, mas esta participação ativa parte do Direito posto. 

Referências

AARNIO, Aulis. Essays on the doctrinal study of Law. Doordrecht: Springer, 2011.

_____. “Cambio o evolución?”. In: Idem; ATIENZA, Manuel; LAPORTA, Francisco. Bases teóricas de la interpretación jurídica. Fundación Coloquio Jurídico Europeo: Madrid, pp. 81-119, 2012.

_____. “Una única respuesta correcta?”. In: Idem; ATIENZA, Manuel; LAPORTA, Francisco. Bases teóricas de la interpretación jurídica. Fundación Coloquio Jurídico Europeo: Madrid, pp. 9-45, 2012.

ALEXY, Robert. Theorie der Grundrechte. 3 Aufl. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1996.

ATIENZA, Manuel. “La dogmatica jurídica como tecno-praxis”. In: NÚNEZ, Álvaro. (Coord). Modelando la ciência jurídica. Lima: Palestra, pp. 115-159, 2014.

ÁVILA, Humberto. Constituição, Liberdade e Interpretação. São Paulo: Malheiros, 2019.

_____. Teoria da Segurança Jurídica. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2019.

_____. “A doutrina e o Direito Tributário”. In: Idem. (Coord). Fundamentos do Direito Tributário. Madri: Marcial Pons, pp. 221-245, 2012.

_____. “Função da Ciência do Direito Tributário – do formalismo epistemológico ao estruturalismo argumentativo”, Direito Tributário Atual, n. 29, São Paulo: Dialética, pp. 181-204, 2013.

_____. “Juristische Theorie der Argumentation“. In: HELDRICH, Andreas. et al. (Orgs.). FS für Claus-Wilhelm Canaris zum 70. Geburtstag. München: Beck, pp. 963-989, 2007.

BAYERTZ, Kurt. “Four uses of ‘Solidarity’”. In: BAYERTZ, Kurt. (Ed.). Solidarity. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, pp. 3-28, 1999.

BARROSO, Luís Roberto. “Contramajoritário, representativo e iluminista: os papéis das supremas cortes e tribunais constitucionais nas democracias contemporâneas”, Revista Interdisciplinar de Direito, v. 16, n. 1, p. 217-266, jun. 2018.

CALSAMIGLIA, Albert. “Ciencia jurídica”. In: GARZÓN VALDES, Ernesto; LAPORTA, Francisco. (Eds). El Derecho y la Justicia. Madrid: Trotta, pp. 17-25, 1996.

DICIOTTI, Enrico. L’ambigua alternativa tra cognitivismo e scetticismo interpretativo, Working Paper 45, pp. 3-81, 2003.

GUASTINI, Riccardo. Interpretare e argomentare. Milano: Dott. A. Giuffrè Editore, 2011.

_____. “El realismo jurídico redefinido”. In: NÚNEZ, Álvaro. (Coord). Modelando la ciência jurídica. Lima: Palestra, pp. 87-114, 2014.

LAPORTA, Francisco J. El Império da la Ley – Una visíon actual. Madrid: Trotta, 2007.

LEÃO, Martha. O Direito Fundamental de economizar tributos. São Paulo: Malheiros, 2018.

_____; DIAS, Daniela Gueiros. “O conceito constitucional de serviço e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”, Direito Tributário Atual, n. 41, São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Tributário, pp. 295-316, 2019.

MacCORMICK, Neil. Rhetoric and the Rule of Law: A Theory of Legal Reasoning. Oxford: Oxford University Press, 2005.

MENÉNDEZ, José Augustín. Justifying Taxes – some elements for a General Theory of Democratic Tax Law. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2001.

MUNOZ-DARE, Véronique. “Fraternity and Justice”. In: BAYERTZ, Kurt. (Ed.). Solidarity. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, pp. 81-97, 1999.

NINO, Carlos. Algunos modelos metodologicos de ‘ciencia’ jurídica. Ciudad de México: Fontamara, 2003.

_____. Consideraciones sobre la dogmatica juridica. Ciudad de México: Ediciones Coyoacán, 1989.

NÚNEZ, Álvaro. “Ciencia jurídica: un mapa conceptual”. In: Idem. (Coord). Modelando la ciência jurídica. Lima: Palestra, pp. 14-51, 2014.

ROSS, Alf. Direito e Justiça. 2. ed. Trad. de Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2007.

SANTOS, Ramon Tomazela. “Formalismo e tributação: contributo para as regras jurídicas e as razões formais no Direito Tributário”, Direito Tributário Atual, n. 40, São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Tributário, pp. 349-374, 2019.

SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer: a new introduction to legal reasoning. Cambridge: Harvard University Press, 2009.

SOUZA, Túlio Venturini. “Decifra-me ou te devoro: a perspectiva cética do STF no julgamento do RE n. 651.703/PR e seus desdobramentos do conceito de serviço”, Direito Tributário Atual, n. 41, São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Tributário, pp. 436-461, 2019.

STEVENSON, Charles Leslie. “Persuasive definitions”, Mind, v. 47, n. 187, Oxford University

Press, pp. 331-350, jul. 1938.

WALDRON, Jeremy. The Harm in Hate Speech. Cambridge: Harvard University Press, 2012.

Downloads

Publicado

2020-01-14

Edição

Seção

Artigos