OS LIMITES ENTRE A EXPLORAÇÃO E A ESCRAVIDÃO NO CICLO DA CERA DE CARNAÚBA - DOI: 10.12818/P.0304-2340.2020v77p87
Abstract
A cera de carnaúba passou a ocupar lugar de destaque no conjunto das exportações do Piauí nos primeiros anos do século XX, e teve seus tempos áureos a partir de 1940, quando o estado superou o Ceará, até então considerado
o principal produtor da cera. Embora inovações tecnológicas tenham sido introduzidas na preparação da cera, para extração do pó, os trabalhadores do nosso tempo ainda executam atividades já consideradas rudimentares nos
seus tempos áureos. Trata-se de um trabalho árduo, braçal, descrito pelos nossos entrevistados como passíveis de danos irreversíveis à saúde. Além dos danos causados à saúde, esses processos resultam, ainda, em perdas no plano ecológico, pelo excesso de cortes a que são submetidas as carnaubeiras. No ano de 2014, foi flagrado o primeiro grupo de trabalhadores em condição de trabalho escravo em áreas arrendadas para a extração do pó da carnaúba no Estado. A partir das experiências de famílias de trabalhadores extrativistas, pretendemos compreender os mecanismos que favorecem o processo de naturalização da exploração nesse tipo de atividade, claramente toleradas por grupos tradicionais e passadas de geração a geração, e os limites entre a exploração e a escravidão pensados tanto pelos trabalhadores como pelo Estado. Além de fontes orais, foram analisadas fontes escritas, acessadas em acervos da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego - SRTE, Ministério Público do Trabalho – MPT. A pesquisa foi iniciada no âmbito da Rede de Ação Integrada para Combater a Escravidão - Raice, CPT/CDVBH-CB, e continuada através do Programa de Bolsa de Iniciação Científica – PIBIC.
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