A PRESENÇA DA IMAGINAÇÃO NA HERMENÊUTICA: UM ENCONTRO ENTRE IMMANUEL KANT E PAUL RICOEUR - DOI: 10.12818/P.0304-2340.2019v75p263
Resumo
A presente investigação pretende realizar uma aproximação entre Kant e Ricoeur tendo como ponto de orientação o papel da imaginação nos dois filósofos, restando delimitada na Crítica da Faculdade de Julgar (KU) e na Metáfora Viva. Identifica-se que na terceira crítica a imaginação não se encontra estritamente a serviço do entendimento na realização das sínteses a priori, encontrando-se mais livre e exercendo uma função interpretativa e orientadora. Nessa perspectiva, a pesquisa propõe a aproximação com a função hermenêutica da imaginação em Ricoeur. A metáfora é um nó górdio na filosofia de Ricoeur, quando a imaginação lida com a diferença e a identidade no discurso figurado, abrindo uma pluralidade de interpretações importantes às compreensões do ser, ou seja, de um universo aberto de possibilidades. Assim posta à questão, rompe-se com a determinação do conceito e a subjetividade passa a ser plural, polifônica, desconhecendo uma causalidade tal que pudesse estabelecer univocidades. Tal abertura se encontra na metáfora viva de Ricoeur. De forma análoga, na terceira crítica a imaginação toma a frente do entendimento e entra num jogo com a sensibilidade sem a mediação conceitual, num momento em que a subjetividade parece não encontrar limites. Como recolocar nos trilhos a imaginação em Kant e em Ricoeur? Surge a necessidade da alteridade produtora de um espaço intersubjetivo, tornando-se uma instância acolhedora das produções e capaz de compreender as manifestações. A arte, produzida a partir de uma imaginação livre, tem a capacidade de produzir sentimentos que falam de forma direta. A partilha dos sentimentos em face das produções da imaginação pode ser aferida em comunidade, a partir de uma razão comunitária (ou de um sensus communis) apta a gerar um locus privilegiado aos processos de compreensão.
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